terça-feira, 11 de abril de 2017

FÁBRICA DE SONHOS - CAPÍTULO 3

A descoberta de um sonho

O ano era 1986. Ano de Copa do Mundo. Meninos na idade de 8, 9 e 10 anos, acompanhavam o Brasil na Copa do Mundo no México e brincavam de tudo que 'linkasse' ao futebol. Jogávamos “bafo”, ou simplesmente “batíamos” figurinhas dos craques da Copa que vinham em chicletes. Jogávamos futebol em um campo de areia em frente ao condomínio onde morávamos na Zona Sul de Porto Alegre. Batizamos nossa “arena” de “Pedra Moura” devido ao alto número de pedras no “areião” e pela proximidade da Rua Landell de Moura. Era o dia inteiro correndo e com muitos joelhos lascados depois do atrito comum ao solo. Era só chegar em casa e passar o ardido “merthiolate” que tudo ficava bem. Mais tarde à noite, as horas eram destinadas aos campeonatos de futebol de botão/futebol de mesa. E ali aparecia um jogador/narrador/repórter que descrevia tudo que acontecia nos “estádios” colocados no chão dos corredores ou salas dos apartamentos. Eu era muito chato (???!!!). Narrava tudo. Entrada em campo. Falta. “Terremoto no México” gritava dando um tapa na mesa.. Hehehe... Mas era divertido e todos diziam: “ - O Fabiano vai trabalhar com isto quando crescer..”


Meu pai era músico. Olavo Brasil era compositor e instrumentista de músicas nativistas. Jamais vou esquecer o dia que ele me convidou para irmos até uma tal rádio Farroupilha. Lá ele falaria do seu trabalho para um comunicador chamado Sérgio Zambiasi. Que ansiedade! Eu iria ver um estúdio de rádio com transmissão ao vivo??? Era isso mesmo??? Sim. Era isso.
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Meus olhos brilharam. Ao ver Zambiasi em ação, falando ali na minha frente, uma mesa repleta de anotações e papéis, não tive nenhuma dúvida. Eu seria sim RADIALISTA, JORNALISTA, enfim, eu estaria no futuro trabalhando com aquilo ali que havia conhecido naquele dia.
Meus presentes de dia das crianças e Natal daquele ano foram uma máquina de escrever Ollivetti Lettera e um gravador (que também era utilizado pelo meu pai em seus ensaios.) Gravava programas inteiros. A vantagem da voz ainda indefinida trazia três, quatro personagens em um programa de assistência ao público.


Em meio a tudo isso meu pai, que era do CTG Descendência Farrapa, me levara para o grupo de folclore. Eu seria declamador mirim. Decorei poesias de Dimas Costa, Jaime Caetano Braun, Albeni Carmo de Oliveira e do meu próprio pai, e fui para Rodeios Artísticos e Culturais entre CTGs de todo o estado. Centenas, milhares de pessoas assistindo e o menino de 11, 12 anos enfrentava o público e o nervosismo. Sei lá, eu me sentia bem lá em cima do palco. Tranquilo. E conquistei alguns concursos declamando poesias. Em um destes rodeios, meu pai, adoentado, não pode ir. Eu havia desistido de ir sem ele, mas me encorajei, prometi que iria ainda ganharia por ele. Fui. Voltei com o troféu de 1º lugar nas mãos. Emocionado me atirei em cima do meu velho que não conseguia levantar-se da cama e sussurrei em meio às lágrimas:- Tá aqui pai. Fui e ganhei. Pra ti.” O primeiro lugar é teu...” Escrevo estas linhas com os olhos marejados, pois ali eu conquistava o meu primeiro sonho consciente. Enfrentei o medo, a insegurança e parti sem ninguém da minha família, mas com o carinho de muitos amigos, em busca do sonho de honrar ao meu pai e conquistar, pra ele, para orgulho dele, aquele concurso cultural.



Naquele ano eu ganhei um rádio AM/FM. Lembro que onde eu andava, lá estava o meu rádio. Ouvia tudo quanto é rádio. De tudo. Musicais, informativos, futebol... Dormia com o rádio ligado. Pedi uma assinatura de jornal ao meu pai. Ele assinou o Correio do Povo. Eu acordava bem cedo e corria na caixa de correspondência para buscar a edição do dia. Devorava o jornal em minutos. Eu queria estar o mais próximo possível dos meus sonhos. Lendo, ouvindo rádio, decorando textos, declamando nos CTG´s, eu estava perto de tudo que me levava ao meu sonho. E seguiam as visitas à rádios com meu pai. Conheci grandes nomes como Luiz Menezes, Sérgio Zambiasi, Gugu Streit, Aníbal Alves e muitos outros que se tornaram também, amigos do meu velho. 
 
O veraneio de nossa família era em Pinhal, uma praia do litoral norte do estado, e lá, eu sintoniza rádios do Uruguai e da Argentina. Era o máximo.
Eu já produzia os meus programas de rádio. Eu era o apresentador, o repórter, o operador de áudio e sonoplasta. Com uma tampa de margarina no ventilador fazia o som que era pra representar um helicóptero... Hehehe.. Me divertia. Imitava Sérgio Zambiasi. Todos riam e eu adorava fazer aquilo. Gostava de entreter amigos e a minha família.


Na escola, ao invés de mochila, levava meu material em pastas que tinham os nomes dos cursos superiores, e é claro, que a minha continha a inscrição “JORNALISMO”.
Era um sonho de criança que ficou registrado em um questionário... Alguém lembra dele??? Não existia internet, facebook ou o falecido “orkut”, existiam os questionários, e esta reprodução era de um de propriedade de minha tia, Luciana, que praticamente foi criada junto comigo e o sentimento que temos um pelo outro é como de irmãos...




Sonhos. Somos movidos por eles. Alguns realizamos, outros não, mas fundamentalmente, percorremos a estrada de nossa existência com objetivos a serem cumpridos. A forma de alcança-los nem sempre são tão simples, no entanto, acredite, cada curva, cada desvio, representa um aprendizado, afinal, tudo dependerá da forma como você enxergar o obstáculo.

A vida é 10% o que acontece e 90% a forma como reajo ao que acontece, já dizia Charles Swindoll. Quem sou eu para contrária-lo??? Prefiro tentar perceber os sinais que a vida mostra a cada etapa concluída, seja ela positiva ou não.



Um comentário:

Imaginário Cotidiano disse...

Parabéns, Fabiano.
Linda história! Com certeza será um grande livro, já dá vontade de ler mais!
Grande abraço.