segunda-feira, 8 de maio de 2017

FÁBRICA DE SONHOS - CAPÍTULO 4

-OS IMPREVISTOS QUE MOTIVAM-

Quantas vezes em nossas vidas nos deparamos com situações em que falamos: “ - Seria engraçado se não fosse trágico!!!” 
 
Pois é, na minha busca por sonhos não foram poucas às vezes onde me deparei com esta frase, ou com aquela: “ - Um dia eu vou rir de tudo isso...!” 
 
No Workshop Fábrica de Sonhos, faço questão de contar algumas situações que mostram que nem todos os imprevistos são ruins. Muitas das coisas que acontecem de forma inesperada ou ao contrário do que esperamos, podem servir para nos levar para mais perto de nossos objetivos. Em alguns casos, pode até recolocar-nos no caminho correto, mudá-lo se for preciso, ou até descobrir qualidades que sequer sabíamos que tínhamos.

Em 1997, eu tinha 20 anos. Até então, estudante de Administração de Empresas, havia trabalhado somente na aréa administrativa e comercial. Não vou dizer que era frustrado, mas não estava longe, muito longe dos meus verdadeiros sonhos. Estava distante de trabalhar com aquilo que sempre sonhei: O jornalismo. O rádio. A comunicação.

Havia terminado um estágio em uma instituição financeira. Com êxito. Gostava do que fazia, mas longe de estar plenamente feliz com minha atividade. Buscava uma nova colocação. Lembro que foi em um domingo à noite, que meu irmão mais velho, Marco, me falou que um hospital de POA, o São Lucas, da PUCRS, estava contratando Administrativos para o seu quadro. Meu irmão, já trabalhava na empresa há 10 anos e naquela manhã, iria passar bem em frente ao hospital, assim, eu iria com ele e me deixaria no local para entregar o meu currículo e quem sabe pleitear uma destas vagas.
Recordo que eu não estava bem. Sem conhecimento algum de inteligência emocional, imaginava estar passando por uma fase de “azar”. Tudo dava errado. Havia acabado o estágio e não conseguia outra colocação. Carro estragado. Sem namorada. Havia jogado futebol e saí lesionado. Fase danada. E quanto mais eu pensava que estava vivendo um momento azarado, mas coisas “ruins” aconteciam. (O que a mente produz o universo concretiza...)

Enfim, acordei cedo. Me vesti com um traje social, peguei meu currículo e fui. De carona com meu irmão, entramos no carro e sentimos um cheiro muito ruim. Cheiro de “cocô” de cachorro. Convenhamos, que coisa bem desagradável, pela manhã, logo cedo...
Meu irmão, é claro, sentiu o odor e perguntou: “- Foi eu ou foi tu quem pisou???” E eu totalmente desanimado respondi: “ - Não precisa nem olhar, fui eu!!!” Ele caiu na risada e fui contatar que realmente, quem havia pisado na merda, era eu. Saí do carro, tirei o sapato, limpei e conseguimos deixar a Zona Sul de POA, onde morávamos, para seguirmos com o planejado...

Como de hábito, comprei um jornal e fui lendo até o meu destino. Chegamos na Av. Ipiranga e logo desci rápido do veículo, uma vez que um ônibus com motorista impaciente já começara a buzinar atrás do meu irmão. Desci correndo para que meu irmão seguisse o seu caminho e rumei para uma fila com mais de 100 pessoas que também aguardavam para entregarem seus currículos. O relógio marcava algo próximo de 6h40min da manhã daquela segunda-feira quando sentei-me e comecei a ler o meu jornal. Passava das 11h quando me chamaram para entrar em uma sala onde uma pessoa me recebeu. Entreguei meu currículo e aguardei. Em 30 segundos o rapaz disse: “ - Puxa, meu amigo! Hoje só estamos recrutando candidatos da area de enfermagem...” Eu, incrédulo, apenas olhei resignado e falei: “ - Tudo bem. Volto quando?” Veio a resposta: “ - Candidatos da area administrativa recebemos nas terças-feiras, mas façamos o seguinte: Como você veio hoje, esperou e está aqui conformado que houve apenas um erro de informação, volte amanha neste horário mesmo, umas 11h, que lhe atenderei. Gostei de você...” Aceitei. Fiquei feliz que no dia seguinte não necessitaria passar por tudo aquilo de novo e fui embora em direção a parada de ônibus.

Eis que quando coloco a mão no bolso para pegar minha carteira... Ela não estava lá. Onde estava minha carteira??? Com todo o meu dinheiro? Todo. Nem tanto assim. Não era muito, mas o suficiente para duas conduções e retornar para minha casa. Pensei, pensei, voltei ao RH do HSL, perguntei se não havia deixado lá e nada. Sentei no meio-fio e comecei a tentar relembrar meus passos e descobrir o paradeiro da minha carteira. Lembram quando eu disse que havia comprado um jornal ainda no carro do meu irmão??? Pois coloquei a carteira no painel e com a correria para descer em função do ônibus buzinando, saí correndo e esqueci minha carteira dentro do carro, que naquele momento estava do outro lado da cidade, na Zona Norte da capital...

Pois bem. Passada a irritação. Não havia nada a fazer. Ou voltava para casa a pé, o que daria umas três, quatro horas de caminhada no calor de fevereiro, ou sei lá o que faria. Então vi a minha frente um jornaleiro gritando: “ - Zero, Zero, Zero!!!” (em alusão ao Jornal Zero Hora). Olhei para baixo do meu braço, tinha um currículo em uma pasta e uma...??? ZERO HORA!!! Pensei. Vou vender meu jornal para o jornaleiro e volto pra casa.

Pelo menos para bem perto, já que na época o valor de um jornal dava para pelo menos uma condução. Não mais caminharia 3, 4 horas, mas apenas uns 40 minutos...
Fui até o jornaleiro. Com calma. Dei bom dia e vi uma pilha de jornais para ainda serem vendidos. Bahhhh, me ralei, pensei....
Como naquele momento minha única salvação seria essa e o “não” eu já tinha, perguntei: “ - Oi companheiro! Bom dia! Cara, olha só, fiquei sem dinheiro, deixei minha carteira no carro do meu irmão e preciso voltar pra casa, tu não queres comprar meu jornal? Eu li só uma vez... (com um sorriso meio sem jeito e rindo da minha situação...)

Pausa do rapaz. Me olhou da cabeça a baixo e respondeu: “ - Cara, eu até te compro o jornal, mas para isso tens que me ajudar a vender esta pilha que ainda tenho...”

Ahahahahaha... 
 
Imaginem...

Sim. Eu comecei a oferecer jornais para as pessoas que chegavam na Universidade da PUC. Em menos de 30 minutos vendemos todos os jornais. Ajudei o cara!!! Ele me disse que os jornais sempre terminavam por volta das 15h, aquele dia não eram nem 12h e ele já havia vendido todos, menos o meu... Que vendeu logo em seguida...

Assim, segui meu caminho. Resolvi ir até a Zona Norte com uma só condução e fui ao encontro do meu irmão, com quem retornei para casa mais tarde, mas aí, já com minha carteira, pude almoçar e pelo menos, respirar aliviado.
No outro dia, fui até o HSL, fui contratado e comecei a trabalhar no sistema 12/36h, o que me propiciou começar a me profissionalizar com radialista e em 3 meses já estava trabalhando também em uma rádio comunitária e na TV (no Canal 20 da NET/SUL – GLOBO CABO).

Em meio aquele dia de “azar”, onde quase tudo deu errado, começava a minha história na comunicação. Em um dia onde aprendi sobre paciência, resiliência, solidariedade e oportunidade, iniciava a minha caminhada. Com 21/22 anos iniciava a trilhar o caminho do meu sonho de criança. O sonho do menino de 7, 8 anos que só queria poder empunhar um microfone e comunicar...

Lembro que no hospital encontrei muitas pessoas diferentes. Conheci situações diferentes da vida. Convivia com a alegria de um nascimento e a tristeza de uma morte em minutos, e mesmo que aquilo na época fosse sofrido pra mim, hoje vejo que todo aquele aprendizado me fez entender coisas que em nenhuma faculdade eu aprenderia... Entender a vida...

Aprendi a valorizar as pessoas. Conheci pessoas que hoje inclusive támbém são jornalistas para que também viviam seus dramas. Pessoas que tinham problemas muito maiores que os meus e que de certa forma, consegui amenizar com palavras, com um olhar, um sorriso...

Trabalhando naquele local que nada tinha a ver comigo escrevi meu primeiro livro, o “Memórias... Crônicas... Poesias...” Conheci amigos para uma vida inteira. Conheci entusiastas do meu trabalho que até hoje me apoiam e seguidamente lembram desta fase tão sofrida mas não menos importante da minha existência.

Lembro que na função Administrativo Noturno uma das minhas atribuições era comandar o Transporte Interno de Pacientes para Exames. De posse de um Walk-Talkie amenizava as intermináveis madrugadas onde vivíamos em um ambiente com pessoas que lutavam simplesmente para viver...

Foi um início. Um recomeço de um sonho que havia sido sepultado anos atrás e que naquele instante ressurgia...

Uma série de imprevistos. Um atrás do outro que me levaram ao meu sonho. Obviamente que eu não sabia disso, mas a persistência diante daquelas dificuldades, de cada novo empecilho, me enchiam cada vez mais de energia e motivação de seguir no meu caminho e busca da realização do meu sonho...


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